As belezas do Planalto Norte Catarinense
- amigasestradeiras
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Atualizado: há 3 horas
Itaiópolis, 19 e 20 de julho de 2025.
E, de última hora, as estradeiras se organizaram para passear num fim de semana que prometia tempo bom. O destino escolhido foi a cidade de Itaiópolis, distante cerca de 150 km de Blumenau. Saímos no sábado de manhã cedinho, vendo o sol nascer pelo caminho, o que nos enchia de expectativas pelo que nos aguardava nessa pequena cidade que, pelas nossas pesquisas, parecia encantadora.

Itaiópolis, que inicialmente era um Distrito de Mafra, foi emancipada em 28 de outubro de 1918 e reinstalada em 1º de janeiro do ano seguinte. Está localizada no planalto norte catarinense e atualmente conta com cerca de 23000 habitantes. É um destino marcado por forte herança européia, preservando, em sua arquitetura, culinária, religiosidade e modo de vida, os traços deixados pelos imigrantes ucranianos e poloneses. Transmite uma atmosfera tranquila e acolhedora, com belas paisagens naturais e riquíssima história cultural. Muito organizada, povo demais acolhedor e hospitaleiro, um lugar daqueles que nós adoramos conhecer.
Chegando na cidade, vindo da direção de Doutor Pedrinho, que é cidade vizinha, já fizemos nossa primeira parada nas Igrejas de São Pedro e São Paulo, no bairro de Moema. Esse é um conjunto de duas igrejas com o mesmo nome, sendo que a de alvenaria, construída na década de 1990, substituiu a de madeira, construída em 1914, porém acabaram se conservando as duas. É uma igreja de rito bizantino-ucraniano, que foi tombada pelo IPHAN em 2007 e é considerada um marco da imigração ucraniana no Brasil. O templo mais antigo, de uma singeleza ímpar, ainda tem um pequeno cemitério anexo. O templo mais novo, já mais rico em detalhes e ornamentos, belíssimos vitrais e altar trabalhado em madeira, emana a mesma sensação de paz. Tivemos sorte de encontrar a senhora Ana, que estava fazendo limpeza no local e gentilmente nos permitiu conhecer o espaço.





Dali seguimos para o centro da cidade, onde primeiramente paramos na Panificadora e Confeitaria Pão da Nonna, para um rápido lanchinho pré-almoço. O local serve um café honesto, com boas opções de doces e salgados. Também vendem geleias produzidas na cidade, além de alguns artigos de artesanato. O ambiente é bom e o preço justo.



Em seguida fomos ao Centro de Recepção aos Visitantes, que fica na bela e arborizada Praça Brasil, abrigado numa edificação típica polonesa, realocada ali em 2012, após doação da Família Oleinik, para ser usada como centro receptivo, de informações turísticas, venda de artesanato e produtos coloniais e exposição permanente da tradição cultural. O charme fica por conta da bela varanda, do assoalho de madeira, do colorido da pintura, das cortinas delicadas, do sótão onde estão expostos alguns móveis antigos. Ali fomos recebidas pela Maria Clara, com muita gentileza. Vendem artigos diversos de artesanato, como as pêssankas, chaveiros, marca páginas, etc. e também produtos coloniais como geleias.




Deixamos o carro estacionado por ali mesmo e fomos bater perna nos arredores. O prédio da Prefeitura Municipal, localizado num terreno mais alto ao nível da rua, com bonita arquitetura, tem o letreiro da cidade logo em frente.


E também ali perto fica o Clube 16 de Abril, fundado em 1918, para recreação da comunidade, com bailes, cinema, teatro e outros eventos. Depois foram abrindo espaço para o bolão, futebol, sauna, piscina e até hipismo, mantendo-se ativo até os dias atuais.

Caminhando pelas ruas, apreciando o comércio local, chegamos à rodoviária do município, em cujo jardim ficam o Monumento ao Centenário, comemorado em 2018 e também o Monumento em homenagem à cultura ucraniana e polonesa.


Naquele horário, já com fome, seguimos ao Restaurante Ita, que nos foi indicado e que ficava localizado no subsolo do prédio do hotel onde ficaríamos hospedadas. O restaurante, que trabalha no sistema buffet livre e também por quilo, serve saladas, acompanhamentos, alguns tipos de carne e sobremesa. O ambiente é amplo, o atendimento cordial e o preço justo.



Depois do almoço já pudemos fazer check-in no Hotel Venturi, que havíamos pré-reservado e que nos ofereceu uma hospedagem confortável, com preço bem acessível. O quarto não era muito grande, mas as camas eram confortáveis, o banheiro funcional e o café da manhã, incluso na diária, era simples, caseiro, mas gostoso. O local tem estacionamento fechado e coberto, e o atendimento na recepção foi sempre muito prestativo, inclusive com dicas de locais e contatos de artesãos da cidade.


Após um tempinho de descanso, fomos conhecer o bairro de Alto Paraguaçu, também conhecido como Pequena Varsóvia, tombado pelo IPHAN como Núcleo Urbano em 2007. Aliás, Itaiópolis foi reconhecida como cidade histórica pelo Ministério da Cultura, justamente por causa desse bairro. Ali foi o berço da colonização polonesa no município e isso está bem retratado nas casas históricas, na igreja, no museu e também no modo de vida das pessoas.



Estacionamos o carro bem em frente ao Casarão Museu da Memória Regional, que foi nossa primeira visita naquela região. O museu, abrigado numa casa imponente que já serviu de residência, comércio e até hospital, e foi completamente restaurada entre 2017 e 2021, foi inaugurado em 07 de novembro de 2021.
Esse lugar é um espetáculo! Além de museu, oferece oficinas artísticas e musicais. O acervo é muito rico, com móveis, objetos, utensílios domésticos, documentos. Cada cômodo representa um ambiente e é decorado com afrescos diferentes nas paredes. O assoalho, impecável, não emite nenhum rangido. As varandas, frontal e dos fundos, são maravilhosas. Nos fundos ainda tem um belíssimo jardim, com galpão de máquinas e ferramentas agrícolas, além de casinhas que retratam a forma de viver dos imigrantes. O diretor do museu, João, tinha saído para fazer uma filmagem nas redondezas, mas depois o encontramos e ele nos informou que nos finais de semana do mês de setembro vai ter uma programação especial na região, com feirinhas e mais atrativos. Fica a dica pra quem quiser visitar. A entrada é gratuita. Imperdível!








Curiosidade: em frente ao museu, ainda está ativo o Moinho Paraguassu, da família Landowsky. Ele foi construído no ano de 1938, moendo trigo e centeio para as famílias da região, atividade que continua sendo feita até hoje. O atendimento é somente de segunda à sexta-feira, mas dizem que recebe visitantes de vários lugares procurando pelos seus produtos.

Logo ao lado do moinho ficam as Capelinhas do Rosário, que foram inauguradas em 2004, numa homenagem aos 25 anos do pontificado do Papa João Paulo II, nascido na Polônia, tal como grande parte dos colonizadores de Itaiópolis. Trata-se de uma trilha fácil em meio à natureza, onde o visitante passa por 20 capelinhas, cada uma com um mosaico diferente, que contam os mistérios do terço.




Um pouco adiante está a Igreja de Santo Estanislau, considerada o maior templo católico construído por imigrantes poloneses na América Latina e a primeira igreja católica romana de Itaiópolis. O atual templo foi inaugurado em 8 de maio de 1922, mas a história começou em 1896 com a construção de uma pequena capela, que em 1901 foi transformada na atual Paróquia. A imponente edificação em estilo neogótico, tem torre com 54 metros de altura onde estão os sinos, o relógio e externamente a águia branca, símbolo dos poloneses. Grandes portas de madeira, piso ladrilhado, bancos de imbuia maciça e escada caracol que dá acesso ao coro, com detalhes entalhados na madeira, são algumas características marcantes. Belos afrescos nas paredes e vitrais coloridos completam a beleza do espaço. Cercada por um belo jardim, é um verdadeiro cenário de paz e contemplação.




Como por ali as atrações ficam todas bem próximas umas às outras, deixamos o carro estacionado desde o momento que chegamos e fizemos tudo a pé. No caminho entre um ponto e outro, encontramos a Clara, lindamente trajada em estilo polonês, vindo de alguma filmagem. Ela nos autorizou a postagem da foto, pelo que ficamos agradecidas e já nos convidou para conhecer o restaurante da família.

A Pierogarnia Lis, cuja proprietária é a Aurea, mãe da Clara, oferece uma experiência gastronômica típica da região, servindo um rodízio de pierogi e acompanhamentos. O pierogi é, talvez, a receita da culinária polonesa mais famosa ao redor do mundo. Trata-se de uma massa feita com farinha de trigo, tradicionalmente recheada com um tipo de queijinho temperado, mas ali o cardápio oferece sabores diversos, inclusive doces e vegetarianos. Pode ser preparado cozido, acompanhado de algum molho, ou também frito. O restaurante está abrigado numa casa de 1914 e tem ambiente muito aconchegante, tipicamente decorado, com muitas cores, sabores e capricho. O atendimento é primoroso, com direito à conversa boa. Também vendem algumas peças de artesanato e belíssimos lenços vindos da Polônia. Um charme! As estradeiras recomendam!



Outro local do bairro que conhecemos foi a Casa Polaski, construída em 1928, comprada pelo IPHAN em 2008, sendo restaurada dali em diante até 2013. Sua característica principal é a construção mista, sendo composta por fachada frontal em alvenaria e corpo todo em madeira, inclusive suas paredes internas. As duas laterais tem amplas varandas e nos fundos ficam depósitos e áreas de serviço. Além de residência, ali também funcionaram comércio e um banco. Atualmente é usada como espaço cultural, espaço de exposição, para oficinas de artes e também vendem algum artesanato. Com móveis e objetos antigos, assoalho de madeira e um charme característico apesar das melhorias que poderia receber, é um belo exemplo remanescente da cultura polonesa na região.





Em busca de pierogi congelado, para podermos levar pra casa (desejo ardente da Udi), fomos atrás de alguém que pudesse nos ajudar. E assim, depois de pedir informações, chegamos na Dona Irene. De uma hospitalidade e simpatia ímpares, logo nos convidou a adentrar em sua residência e sentar na sua cozinha. No intuito de nos ensinar a preparar a iguaria, ela não somente nos explicou, como demonstrou naquela mesma hora, preparando uma degustação para nós. Além do pierogi, degustamos bolachas e um doce chamado ‘joelho’ ou kolanka, que é uma massa de sonho esticada, receita original dos poloneses daquela localidade, tudo produzido por ela. De conversa boa e fácil, nos contou sobre os filhos, sobre como aprendeu a fazer o pierogi com a sogra, sobre os 50 anos de casamento com o Sr. Luis Antônio que serão comemorados em 2026, que também se juntou a nós na mesa e no papo. E a cereja do bolo foi a vista deslumbrante que tivemos quando ela abriu a cortina da cozinha, sentadas à mesa, vendo o sol se pôr, com a Igreja Santo Estanislau ao fundo. E ali novamente Deus conversou conosco, como já fez em vários momentos das nossas andanças. Deixamos registrada nossa gratidão a esse casal que não só nos ensinou a preparar pierogi, mas nos acolheu com calor, não do fogão a lenha, mas do coração. Agradecemos também ao pessoal do hotel, que nos ajudou na conservação do produto até a nossa saída da cidade.




Então, já anoitecendo, voltamos ao hotel para dar uma relaxada antes do jantar. Para essa refeição, escolhemos o Rota 116 Burger, abrigado numa casa bonita, ali no centro da cidade. Servem lanches e porções generosos, com uma boa variedade de bebidas, a um preço justo. Saímos de barriga cheia, cansadas de um dia bem aproveitado, prontas para desfrutar de uma boa noite de sono e descanso.


O domingo amanheceu frio e enevoado, mas prometendo sol. Por volta das 10h da manhã ele já brilhava e apaziguava o frio de 7 graus que fazia mais cedo. Depois de um bom café, fechamos as malas e encerramos nossa estadia no hotel. Por coincidência, ali na recepção, descobrimos que o marido da filha dos proprietários do hotel, também é blumenauense, inclusive conhecido das nossas famílias. O mundo realmente é pequeno!

E para continuar nossas visitas, dali seguimos para Iracema, uma localidade rural com forte influência da cultura ucraniana em Itaiópolis. Distante cerca de 25 km do centro da cidade, o trajeto até lá é tranquilo e todo pavimentado.
Chegando lá, a primeira parada foi na Igreja da Sagrada Família, de Rito Bizantino Ucraniano Católico, cujo atual templo foi construído em 1959, mas a capelinha que deu origem à Paróquia, foi erguida entre 1897 e 1898. A grandiosidade do templo já nos deixou impressionadas, mas ficamos tristes pois a porta estava fechada. Porém, como as estradeiras são muito abençoadas, havia um senhor rezando na gruta que ficava do outro lado da rua, e também faz parte do complexo, e esse senhor era o Padre Marciano Pensak, que prontamente se ofereceu para abrir a igreja e nos dar o privilégio de poder conhecê-la. De andar e falar mansos, o padre nos contou um pouco da sua trajetória, nos seus 95 anos de vida, sendo a maior parte deles dedicados ao ofício. A igreja tem todas as características tradicionais dos templos ucranianos, como a cúpula bulbosa exterior, e muita madeira no interior, sendo no assoalho, nos bancos, no altar. No entorno, a casa paroquial, a secretaria e um espaço coberto pra eventos.



No outro lado da rua, completando o complexo, um coreto, uma gruta dedicada à Nossa Senhora de Lourdes, e o Morro do Calvário, onde foram construídas as estações da Via Sacra, ao longo de uma trilha entre as árvores, que culminam com um altar erguido no alto do morro, onde também podem ser celebradas missas. E ainda, ao lado dessas construções, o Centro de Tradições Ucranianas, que é um espaço para exposição, oficinas, cursos e, num futuro breve, venda de artesanato da região, como as pêssankas, pintadas pelo artista plástico mais conhecido da região, Maurício Linécia. Quem nos recebeu ali, muito gentilmente, foi a Maria Lúcia, que logo em seguida iria ministrar uma aula de artesanato, mais especificamente de bordado ucraniano, do qual nos mostrou modelos maravilhosos.







Para o almoço, ainda no bairro de Iracema, escolhemos a Dalu Morangos. Esta é uma propriedade particular\ familiar, especializada no cultivo de morangos, inclusive oferecendo a modalidade do ‘colha e pague’ na alta temporada da fruta. E ali, ao lado das estufas, servem um saboroso almoço aos domingos, num espaço simples, mas cheio de charme. Nesse dia, a comida servida no fogão à lenha incluía saladas, acompanhamentos, carnes, além dos típicos pierogi e aluske, que é uma trouxinha de repolho recheada com arroz temperado, da culinária ucraniana. O buffet é livre e a sobremesa entra no pacote. Também vendem geleias, sucos e o morango congelado. Todo o espaço é muito bonito, com jardim impecável, e quem nos recebeu com carinho foram a proprietária Luciana e seu esposo.






De tarde, voltamos ao centro, fomos dar mais uma volta na Praça Brasil, compramos mais umas lembranças e ali perto fica a Igreja Matriz da Paróquia Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. Com arquitetura muito bonita, foi construída entre os anos de 1919 e 1929. Não estava aberta para visitação, mas dizem que possui belas pinturas internas e um órgão de tubos feito sob medida para ela. O jardim é muito bem conservado, com capelinha e chafariz, ladeado por altas palmeiras.



Antes de sair da cidade, tomamos um café delicioso na Confeitaria Nossa Casa. O lugar não é grande em espaço, mas a variedade de opções nos balcões é ótima e a qualidade nota 10! O ambiente é gracioso e acolhedor, e o atendimento muito cordial. Foi perfeito antes de encarar a viagem de volta pra casa.




Precisamos deixar registrado aqui, que o caminho de Blumenau a Itaiópolis nos encantou. Em alguns trechos sequências de altos pinheiros, em outros as cerejeiras florindo ou ainda os belos campos de soja. Em muitos momentos parecia que nem estávamos no Brasil.


Outra curiosidade é que a arte eslava, especialmente a ucraniana, além de ser muito bonita, com todo aquele colorido característico, é uma forma de expressar a identidade cultural e preservar tradições seculares, através da simbologia presente nos objetos e padrões que refletem crenças e valores desse povo. As pêssankas, por exemplo, são ovos pintados à mão com símbolos e cores que carregam significados de proteção, fertilidade, prosperidade e boa sorte. Os bordados, presentes em roupas ou artigos decorativos, também atuam como amuletos, protegendo contra o mal e atraindo energias positivas. As bonecas tradicionais ucranianas, conhecidas como motankas, com sua ausência de rosto, são vistas como guardiãs da casa, simbolizando proteção e representando conexão com a ancestralidade.

E assim encerramos mais um passeio lindo, que deixou nossos corações quentinhos. Gratidão a todas essas pessoas que encontramos e nos receberam com tanto respeito e carinho!
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